Conheci o Budismo Kadampa em 2010 através de uma paciente que comentou que haviam inaugurado um templo em Cabreúva. Sem ter o que fazer no ano novo achei que era um bom momento para aprender a meditar. Foi uma experiência muito rica, só que acabei me afastando.
Em 2015 decidi participar de outro retiro, mas tinha muitas dúvidas e questionamentos. Não me sentia à vontade com os Budas, eles ficavam distantes atrás das vitrines. A ideia de reencarnação era estranha. Apesar disso decidi ficar. Tive uma conversa muito significativa com uma moradora do templo que me disse que se eu quisesse atravessar a serra do Japi precisaria de um bom guia, e para trilhar um caminho espiritual seria a mesma coisa. Olhava aquele monge pequeno nas fotos e tinha vergonha de conversar com ele. Ela sugeriu que eu apenas tentasse. Era o que eu precisava, ter fé.
Fé é uma palavra em desuso nesse mundo tão racional e lógico. Geshe Kelsang Gyatso em seu livro “Como entender a mente” nos explica que a fé é “a fonte da felicidade porque a felicidade é o resultado de ações virtuosas e todas as ações virtuosas são motivadas pela fé”. Entretanto, a fé não é algo que surge de um dia para o outro. Ela vai sendo construída aos poucos, em camadas, a partir de uma escolha pessoal de dar um voto de confiança. Eu precisava daquilo até porque havia entendido que a minha vida carecia de um significado maior e precisaria de ajuda para alcançar essa tal felicidade.
Quase no fim do retiro, em uma das meditações, senti a presença de um ser sagrado ao meu lado. Ele não estava mais atrás do vidro, distante, estava ali. Senti uma tranquilidade. Não estou mais sozinha. E tem sido assim desde então. Dias melhores, outros nem tanto. Já perdi a vergonha e peço ajuda, proteção, conselhos e cuidado para os Budas. Gosto da ideia de imaginar que eles moram todos no meu coração, onde reside a nossa mente. Água misturada com água. Tem dias que a minha mente está uma lama só mas eles são pacientes comigo. A fé não costuma falhar, diz Gilberto Gil. Cabe a cada um dar o primeiro passo. Uma coisa é certa: sozinha naquela mata eu não caminho mais.