Vírus

Alguns dizem que perderam um ano por causa da pandemia. Outros gostaram da oportunidade de ficar mais tempo em casa. Outros usaram a quarentena para se distanciar daqueles dos quais não conseguiam se separar. Outros ficaram indignados com a morte de tantas pessoas. Outros, ainda, estreitaram laços. Há todo tipo de considerações sobre este tempo incomum, mas o fato é que todos nós, seres humanos, no mundo inteiro, estamos sendo afetados de muitas maneiras, por um único vírus.

Se pensarmos um pouco mais, podemos facilmente constatar que isso sempre aconteceu, não o vírus, mas sermos todos afetados por uma única coisa; respiramos o mesmo ar no mundo todo, as águas que banham nossos continentes são as mesmas no mundo todo. Estamos todos interconectados, sempre estivemos. A terra é uma só, e qualquer evento que ocorra, mesmo que no ponto mais distante de nós, nos afeta. Porém, não temos consciência disso, e acreditamos nos limites imaginários das nações; acreditamos nas diferenças entre os povos e as terras e línguas, quando na verdade somos todos seres humanos, iguais em essência, habitando a mesma terra.

Linhas imaginárias não podem modificar um ser, mas preferimos acreditar nas linhas e não no ser. E isto sim, é um “vírus” perene, que traz mais dor e sofrimento que aquele. Porque nos isolamos dentro das nossas linhas, ao invés de desenvolvermos equanimidade e empatia, desenvolvemos egoísmo. Ao desenvolver egoísmo criamos todo tipo de desavença, discórdia, guerras e até mesmo catástrofes naturais.

Por egoísmo expulsamos de dentro das nossas linhas todos aqueles de que não gostamos. Não nos importamos que morram de fome ou sede, que sejam separados de suas famílias e tenham que abandonar suas casas. Não nos importamos que fiquem a deriva. Simplesmente não os queremos dentro de nossas linhas.

Por egoísmo construímos muros para garantir que nossas linhas fiquem claramente demarcadas e protejamos somente aqueles que vivem dentro desses muros, negligenciando todos os que estão fora. Não nos importamos que sofram, afinal, com esta visão, o sofrimento só é sentido quando nos acomete. Aí sim, torna-se insuportável, e para tentar aplacá-lo, pagamos qualquer preço, mesmo à custa da vida dos outros, criando sofrimento.

Este vírus é incomensuravelmente mais danoso do que o sars, infinitamente mais mortal, brutalmente cruel, ao nos manter presos dentro de linhas que não existem, vida após vida, gerando sofrimento sem fim.

Mas simplesmente saber e concordar com isto não basta. Precisamos desenvolver a vacina deste vírus também em nossa mente, em nosso coração, precisamos aprender a destruir essa visão equivocada de nos considerarmos mais importantes que outros. Não somos. Precisamos destruir a visão de que nossa felicidade importa e que a dos outros não. Precisamos aprender a apreciar os outros.

A mais efetiva vacina para o SARS-CoV-2 e qualquer outra doença, é o amor. Quando do nosso coração irradiarmos amor, será amor que daremos ao mundo. Nenhum vírus resiste ao amor.

Gen Kelsang Mudita

Gen Mudita é discípula de Geshe-la Diretor Espiritual Nacional no Brasil da Nova Tradição Kadampa e Professora Residente do Centro de Meditação Kadampa Mahabodhi em São Paulo. Ela é discípula de Geshe-la há mais de 15 anos inspirando pessoas com seu bom exemplo e amor pela prática.

 

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